História

HISTÓRIA - Infância, adolescência, início da juventude

Celia e Celma são as gêmeas idênticas com mais tempo de atuação artística no cenário brasileiro. Nasceram em Ubá, Minas Gerais, em 2 de novembro de 1942 e lá cresceram. O pai, Celidonio Mazzei, antes de se tornar um renomado fotógrafo da região, foi músico; tocava bombardino em uma banda de rua e levou as filhas, quando tinham 5 anos de idade, para uma apresentação no concurso infantil de um circo que passava pela cidade. Conquistaram o primeiro lugar, cantando em dueto – e em italiano – a música “dormi, dormi bambina”. O pai sempre lhes ensinou canções de sua saudosa Itália. 

Celma e Celia, aos 5 anos
Posando para o pai, no Studio Mazzei

Na Rádio Educadora, no programa “A Hora do Guri”, as pequenas cantoras se tornaram a grande atração, cantando ao vivo os “jingles” do refrigerante local, o “Abacatinho”.
Cresceram numa família numerosa, com mais nove irmãos, em uma casa com um grande quintal. Mas, a maior aventura era subir nas árvores do pomar vizinho – da família do compositor Ary Barroso -, para “pegar” as frutas. Brincavam de cozinhar fazendo fogão e panelinhas de barro e ainda no terreiro, montavam os cenários dos teatros que criavam, se exibindo para os amiguinhos. E com ingresso pago! Essas apresentações e as novelas na rádio, foram as primeiras experiências como atrizes.

No colégio, com as freiras francesas e com a mãe, habilidosa na costura, aprenderam o bordado, o “rabo-de-gato” e outras artes. Do artesanato popular, a confeccionar bruxinhas de pano, petecas de palha de milho, papagaios (pipas) de papel de seda e os presépios de Natal.
Desde meninas, saíam a acompanhar as manifestações folclóricas de Ubá e arredores. Eram as Folias de Reis e do Divino, os Congados. Nas festas populares, lá estavam, observando os calangueiros e os tocadores de cateretê nos bailes da roça e dançando quadrilha no ciclo junino.

Aprenderam os passos do catira e a reproduzir o desenho sonoro dos instrumentos de percussão típicos dessas festas. Desse convívio com o povo, recolheram algumas relíquias da literatura oral, como advinhas, lendas e “causos” do imaginário popular. 
Um costume que havia na região era falar “de-trás-pra-frente”. Até hoje as gêmeas se divertem, conversando uma com a outra invertendo as sílabas das palavras e até cantam algumas canções conhecidas nessa “língua”.

Em virtude da formação religiosa que receberam, participavam das encenações litúrgicas, do coro da igreja – cantando inclusive em latim – e do coral do Colégio Sacrè-Coeur de Marie, onde estudaram e se formaram professoras.

Celia e Celma com o uniforme colegial

Fora das horas de aula e de estudos, as gêmeas tiveram uma adolescência plena.de atividades. Passaram a integrar a equipe do Ballet Aquático de Ubá, que se tornou célebre na região e ainda se destacou nas disputas com as equipes de nadadoras do Monte Líbano e do Fluminense do Rio.

A Jangada do Ballet Aquático 1958
A equipe no Monte Líbano, -Rio 1959

Foi no colégio que começaram – de brincadeira com outras colegas -, a esboçar um grupo de música, nas horas do recreio e depois de formadas, já lecionando, encararam pra valer a experiência. Surge o “Conjunto Garotas”, com seis componentes, tocando: piano, acordeão, guitarra, baixo, bateria, saxofone. O grupo passou por algumas mudanças das integrantes, seguindo tocando em bailes e shows por toda a região e outros estados do Brasil, além de se apresentarem em emissoras de televisão no Rio de Janeiro, então Capital da República. Era o ano de 1959. Celma tocava baixo acústico e percussão; Celia, bateria, tendo aulas em Juiz de Fora com Miltinho, futuramente do Sexteto Onze e Meia, do programa de Jô Soares.

Conjunto Garotas – Ubá, 1964

O grupo se desfez quando Celia e Celma quiseram se dedicar definitivamente à carreira artística. Abandonaram o magistério e deixaram Minas Gerais, indo para o Rio junto com o diretor musical do conjunto, o pianista Zé Maria, formando o trio Garotas e Zé Maria. As demais componentes, por diversas razões, ficaram em Ubá.  O trio se apresentava em clubes e nas TVs locais, até quando surgiram convites separadamente para as duas e para o Zé Maria. E a carreira seguiu…


No Rio, Celia e Celma estudaram e se formaram no INSTITUTO VILLA-LOBOS, da UFRJ, em Licenciatura em Música.  O catedrático de folclore, Edison Carneiro, foi quem as despertou para o conhecimento mais profundo do folclore brasileiro. Depois de formadas, chegaram a lecionar Música para turmas de ensino médio, no Rio.


Mesmo longe, souberam conservar todo esse conhecimento adquirido na infância e na adolescência. E até hoje, sempre visitam o estado natal, quando aproveitam para pesquisar e registrar as riquezas folclóricas que ainda resistem por lá, além das raízes da música popular e regional, transformando aos poucos esse acervo cultural em produtos de consumo.


Outro tesouro recebido foi o contato diário com a arte culinária. A mãe, Gioconda, cozinhava no fogão de lenha, em pesadas panelas de pedra, ritual que as duas filhas repetem nos dias de hoje, fazendo comidas típicas mineiras para amigos que as visitam.

A TRAJETÓRIA ARTÍSTICA

No início da carreira profissional, comecinho dos anos de 1960, Celia e Celma, já morando no Rio, foram contratadas como partners, por MOACYR FRANCO, o maior sucesso daqueles anos, na TV Tupi, continuando depois com ele na TV Globo.

Moacyr Franco Show –TV Globo

Na sequência, com produção de Miele e Bôscoli, integram O SOM PSICODÉLICO DE LUIZ CARLOS VINHAS, contracenando com Miele e Lennie Dale, numa temporada em São Paulo, na elegante casa de shows, Blow Up.

Logo, em 1968, participaram do Festival Universitário da Tupi. Conta LUIS NASSIF, o autor da música que defenderam: “compus o Beijo Maroto, frevinho que se classificou e que foi lindamente interpretado pelas Gêmeas Célia e Celma, com arranjo de Élcio Alvares, o rei dos metais, que me deixou muito envaidecido depois de elogiar uma passagem do frevinho”.

Em 1969, depois de assistir à dupla, cantando a convite do clarinetista ABEL FERREIRA, com “OS VELHINHOS TRANSVIADOS”, o polêmico compositor CARLOS IMPERIAL as convida para ingressarem no movimento Pilantragem e com ele, Ângelo Antônio, Gastão Lamounier Neto (nome artístico, Luiz Henrique) e o maestro Leonardo Bruno, integram o grupo a TURMA DA PESADA. Irreverente, alegre, uma revolução de comportamento, fez um grande sucesso na primeira metade dos anos 70.

Junto à cantora CLARA NUNES, o grupo venceu o Festival de Música de Juiz de Fora, interpretando a música “Mandinga”, de Ataulfo Alves e Carlos Imperial.
Nos mesmos anos de 1970, atuam como crooners da orquestra de ED MACIEL e do conjunto D’ÂNGELO.

Em 1975, embarcaram para uma temporada na casa de shows “SACI PERERÊ”, em Tóquio, Japão. Foram seis meses cantando música popular brasileira. A marcha brasileira “Taí”, de Joubert de Carvalho, recebeu uma versão em japonês, feita especialmente para elas.

Celia e Celma, no Saci Pererê, ao lado do seu pôster. Tóquio, 1975

No retorno ao Brasil, atuaram com destaque na então exuberante noite de São Paulo, em casas que fizeram história, como: STARDUST, REGINE e VIVA MARIA. No repertório, grandes compositores da MPB, como Ary Barroso, Cartola, Chico Buarque, Caetano Veloso e ainda soltavam as vozes em ídiche, italiano, espanhol e inglês.

Em 1983, os também gêmeos e cartunistas PAULO e CHICO CARUSO as convidaram para o divertido espetáculo “Cromossomos”, de humor e música.

Com Paulo e Chico Caruso, no Viro do Ipiranga –Rio, 1983

Na noite do Rio, produziram e dirigiram uma série de shows no CLUB 21, recebendo grandes artistas, como Carmen Costa, Cauby Peixoto, Chico Caruso e o grupo Nó em Pingo D’água.


Em 84, uma experiência marcante: dividiram o palco com o grande cantor CAUBY PEIXOTO, no espetáculo “Dance com Cauby”, em duas temporadas no Rio, uma no restaurante “Velho Galeão” e depois no “Asa Branca”. A crítica premiou o show como o melhor do ano e na sequência, o mesmo foi apresentado em várias capitais do país.

Dividiram palcos também com o showman WILSON SIMONAL, no final dos anos de 1980. Em maio de 1986, pegam novamente a estrada, para o Norte e Nordeste do Brasil, com o excelente intérprete EMÍLIO SANTIAGO, dentro do “Projeto Pixinguinha”. Desde então, fixaram residência em São Paulo, passando a se dedicar ao estudo e à difusão da música regional, em seus diversos estilos, e ao folclore brasileiro. 

Em novembro de 1990, receberam o convite da TV MANCHETE para atuarem como atrizes e cantoras na novela “A História de ANA RAIO e ZÉ TROVÃO”. As personagens formavam uma dupla caipira, “Luminada e Luminosa”. Atuaram em toda a trama da novela – que foi sucesso nacional- fazendo muitas cenas com números musicais ao vivo.

Em 1994, lançam pela Editora Nova Fronteira, o livro “A COZINHA CAIPIRA DE CELIA & CELMA”. Em 1995, receberam em Belo Horizonte, das mãos do prefeito Patrus Ananias, o título “EMBAIXADOR DO CENTENÁRIO”, pelo trabalho de resgate dos variados segmentos da cultura mineira. 

Em 1997, concretizaram o projeto “ARY MINEIRO”, fruto de uma pesquisa sobre a obra do conterrâneo Ary Barroso, lançado em uma turnê, com um show dirigido por Myrian Muniz.

Em 1998, foram à Brasília levar ao então Ministro da Cultura, prof. Celso Furtado, um projeto de criação do “MUSEU DE IMAGENS E SONS DO SERTÃO”. Receberam dele total apoio, mas devido às mudanças políticas e a outras dificuldades em viabilizá-lo, ficou arquivado. 

Ainda em 1998, o Canal Rural as convidou para apresentarem um programa que mostrasse a cultura de raiz. Assim começou o “PROGRAMA CELIA & CELMA”, que permaneceu 10 anos no ar, recebendo convidados dos mais representativos da música regional e caipira, compositores, instrumentistas e cantores, além da riqueza e diversidade do nosso folclore.

No Programa Celia & Celma, do Canal Rural, recebendo os compositores Adauto Santos e João Pacífico
No Programa Celia & Celma, do Canal Rural, recebendo Belchior

Outra experiência marcante: participaram do filme “O VIAJANTE”, do cineasta Paulo Cesar Saraceni, cantando em cena a valsa “A Tristeza dos Sinos”, de Ary Barroso, do CD “Ary Mineiro”. Em dezembro desse mesmo ano, receberam a COMENDA ARY BARROSO, da Câmara dos Vereadores de Ubá.


Em 2000, gravam o CD “Brasil na Mesma Toada”. Em 2002 é lançado internacionalmente o documentário “CARREGO COMIGO”, sobre gêmeos, do premiado cineasta Chico Teixeira, do qual fizeram parte. Foram nomeadas membros da Comissão Nacional do Centenário de Ary Barroso e em 15 de janeiro de 2003 é instituído o “Ano Ary Barroso”, em cerimônia no Palácio do Planalto. Na ocasião, interpretaram com o Ministro da Cultura, GILBERTO GIL, “Aquarela do Brasil”, a música mais famosa de Ary.

Com Gilberto Gil –Brasília, 2003

Lançam em novembro de 2003, o livro de crônicas “POR TODOS OS CANTOS”, (Editora Ibrasa), ilustrado com fotos do pai, o fotógrafo Celidonio Mazzei. O prefácio do livro é do jornalista Sérgio Cabral e a apresentação foi escrita pelo Vice-Presidente da República, José Alencar Gomes da Silva.
Também uma experiência que muito as honrou, foi contracenar com o grande Ronald Golias no humorístico “MEU CUNHADO”, do SBT, em 2004, poucos meses antes do seu falecimento. 

Com Ronald Golias – SBT -2004

Depois de algum tempo recolhendo receitas e preciosidades do folclore alimentar da região onde nasceram, a Editora Senac SP edita, em 2006, seu segundo livro de culinária, “DO JEITINHO DE MINAS”. Nele estão 165 dessas receitas e um brinde especial: um CD  com 15 receitas musicadas e cantadas por elas. Pelo livro recebem, em 2007, em Pequim, China, o prêmio “GOURMAND WORLD COOKBOOK AWARDS”, na categoria Culinária Regional. 

O CANAL FUTURA quis “animar” as receitas cantadas, que foram exibidas em clipes, nos intervalos da programação da emissora. Veja como ficaram.

Em novembro de 2009, foram a Cuba e se apresentaram para professores, alunos e colaboradores da UNIVERSIDADE CAMILO CIENFUEGOS, na província de Matanzas. O tema da conferência foi “A música em Minas Gerais: Do Barroco a Ary Barroso.

Voltam animadas para reviver as tradicionais marchinhas, nos festejos carnavalescos de 2010. Fizeram shows em unidades do Sesc, coroando com uma apresentação no encerramento oficial do CARNAVAL da cidade histórica de São João Del Rey (MG).

Fazem uma participação relevante, a partir de 2015, nos espetáculos do consagrado Ballet Stagium, “O CANTO DA MINHA TERRA”, em homenagem ao seu conterrâneo, Ary Barroso. 

Em 2017, o CD de Celia e Celma, “CANTO COM C”, (Arlequim), recebeu quatro pré-indicações ao Grammy Latino. A capa do álbum é uma criação de Ziraldo.
Receberam vários troféus e em 2018, foram homenageadas com o PRÊMIO GRÃO DE MÚSICA, pelo conjunto da obra dedicada à cultura popular brasileira. A dupla, no ano de 2020, festejou o cinquentenário da carreira, lançando pela gravadora Kuarup o álbum: “CELIA e CELMA, 50 anos”.  

De 2020 até 2022, durante o confinamento devido a pandemia de Covid, ministraram diversos CURSOS sobre a cultura popular, pela internet. São 15 discos lançados e participações em outros, como os de Moacyr Franco, Cacique e Pajé, os tributos a Luiz Vieira, Ivon Curi e Martinha.

Celia e Celma estão contando sua história vivida na cidade natal, Ubá, Minas Gerais, onde formaram o pioneiro grupo musical feminino do Brasil, no começo dos anos de 1960, o CONJUNTO GAROTAS, em um DOCUMENTÁRIO divertido e emocionante.